A mistura da cultura de imigrantes alemães e italianos com a influência de indígenas, africanos e demais países latinos resultou em uma das mais belas expressões da cultura do Rio Grande do Sul: a dança gaúcha. Chula, vaneira, chamamé, xote... são vários os estilos que contagiam quem dança e quem assiste às apresentações.
Em Santa Maria, não é diferente do restante do Estado: muitos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), entidades e escolas se dedicam a ensinar a gaúchos e gaúchas de todas as idades as coreografias, geralmente dançadas em pares de peões e prendas. Com a chegada dos Festejos Farroupilhas, a preparação dos grupos é intensificada para fazer bonito em apresentações no mês do gaúcho.
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A Revista MIX acompanhou um ensaio da invernada juvenil do CTG Sentinela da Querência, que fica no Bairro Camobi. A entidade se destaca por levar a expressão da nossa dança para além das fronteiras do Estado. O CTG possui um grupo específico para apresentações em festivais folclóricos internacionais. Membros das várias invernadas do CTG participam desse grupo especial que representa a cultura gaúcha e brasileira pelo mundo.
A invernada juvenil está realizando o primeiro ensaio com o novo professor, Luiz Silva, que também é instrutor do CTG M’Bororé. E a agenda de apresentações está cheia. No dia 18 de setembro, ocorre a Noite das Invernadas, com apresentação dos grupos da casa e convidados. Também será servido um jantar, seguido de show com Beto Pires.
– Aqui no CTG temos programação todos os dias essa semana. É incrível esse trabalho internacional que é feito também. Isso nos traz alegria e também leva o nome do Sentinela os quatro cantos do mundo – diz o empresário e coordenador artístico do Sentinela da Querência, Márcio Rosa.
Desde 1996, o CTG Sentinela da Querência se apresenta em festivais ao redor da mundo. A participação mais recente foi no 1º Encuentro Mundial de las Culturas Populares, que ocorreu em Cali, na Colômbia, de 24 de abril a 6 de maio deste ano (foto abaixo). Coube ao Sentinela representar o Brasil no evento, que também recebeu grupos de dança de países como Estados Unidos, Canadá, Gana, México, Cuba e Polônia.
Conforme Valmir Beltrame, professor e coordenador artístico da entidade, o CTG compete com grupos do Brasil todo e apenas um é escolhido pelo braço folclórico da Organização das Nações Unidas (ONU) para representar o Brasil nos festivais internacionais pelo mundo:
– Já estivemos em mais de 26 cidades pelo mundo. Os promotores do evento entram em contato com os grupos de cada país e pedem que enviemos fotos e vídeos de nosso trabalho. Então é uma honra ser escolhido em várias oportunidades – explicou Valmir, quando o grupo se preparava para a viagem à Colômbia no primeiro semestre.
Antes, em 2020, o CTG viajou até a Itália para representar o Brasil em dois Festivais Mundiais de Folclore. O grupo desembarcou em Roma, onde puderam conhecer pontos turísticos da cidade e realizar diversos passeios. Porém, em razão da pandemia da Covid-19, parte da programação foi cancelada.
O grupo manteve contato com as autoridades locais de saúde e com o Serviço de Vigilância em Saúde de Santa Maria. Assim que retornaram para Santa Maria, os integrantes ficaram resguardados de contato social durante 14 dias.
Primeira Prenda Juvenil do Sentinela da Querência, a Manuela Martins, de 16 anos, conta que se apaixonou assim que teve contato com a dança gaúcha:
– Muitos anos atrás, quando eu fui convidada para vir aqui olhar o ensaio, eu me encantei pela dança. Eu sempre dancei muito, mas tive que parar com o balé. Aqui no CTG, consegui retomar essa paixão.
Augusto da Silveira, primeira guri da entidade na gestão 2023/24, fala que a preparação tem sido intensa para as apresentações no mês do gaúcho:
– Nos sentimos mais à vontade nessas apresentações porque pode ser algo mais solto que nas competições, por exemplo, podemos brincar com o público.
Manuela acredita que a geração de agora, muitas vezes, acaba não dando muita atenção para o tradicionalismo.
– Então estamos tentando buscar de volta essa paixão. Eu acho que é muito importante colocar as crianças no CTG. Nós sabemos o que tem aqui dentro: uma base muito boa e pessoas muito boas que podem nos ajudar com qualquer coisa – finaliza a prenda.
Augusto complementa:
– Agora nos também temos as invernadas Dente de Leite e Pré- Mirim, que são escolinhas de preparação para a Mirim. Temos mais ou menos 60 crianças aqui, começando a cultivar a tradição.
O 1º Guri do Sentinela da Querência também faz parte do grupo que se apresenta pelo mundo. Para ele, é uma tarefa importante, haja vista que o tradicionalismo tem sido menos cultivado:
– Conseguir levar para fora e ver as pessoas ficarem encantadas com a nossa arte é uma sensação inexplicável.
Também bastante atento aos ensaios com o novo instrutor estava o 3° Guri Farroupilha da 13ª Região Tradicionalista (RT). César Correia da Costa Júnior tem 14 anos, mas começou a dançar com três.
– Eu iniciei no CTG Bento Gonçalves. Passei um bom tempo lá e ano passado eu vim para o Sentinela.
A escolha pela tradicional entidade do Bairro Camobi se deu depois que César assistiu à apresentação do grupo no 19º JuvenArt, tradicional competição de dança que é realizada pela entidade.
– Eu vi a apresentação deles e me encantei. Eu acho que, ao longo do tempo, vai se perdendo a tradição gaúcha. Até por isso agora nós estamos fazendo mais eventos para levar a cultura para o público. Me sinto muito feliz em fazer parte disso tudo – finaliza.
Para o diretor artístico Márcio Rosa é muito importante essa manutenção cultural:
– Nós tiramos essa meninada da rua, das esquinas. Dentro do CTG, as famílias também estão junto conosco. Nós temos esse trabalho excelente aqui com todas as invernadas – finaliza.